Tábita Oliveira - Comunicação/Feapaes-PA
02/10/2025
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“O Eduardo, como única pessoa com síndrome de Down defendendo um projeto científico, quebrou paradigmas, e a partir de agora acredito que muitas oportunidades vão surgir para as pessoas com deficiência”, disse a professora Gina Manuelle Carneiro Cardoso, da Apae de Abaetetuba, sobre a participação do Projeto Flor de Lótus - Óleo sustentável e Inclusão, da Apae de Abaetetuba na MILSET Expo–Ciências Internacionais (ESI) 2025, promovida pelo Grupo ADNEC, em Abu Dhabi nos Emirados Árabes, de 29 de setembro a 2 de outubro de 2025.
A exposição serve de palco global para jovens inovadores buscar trocar conhecimentos e destacar os melhores projetos apresentados por um grupo seleto de estudantes criativos e aspirantes a futuros cientistas de mais de 50 países, nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática (STEAM).
Como destaque da feira, o projeto Flor de Lótus é uma iniciativa desenvolvida no Centro Profissional de Trabalho, Emprego e Renda (Cepter) da Apae de Abaetetuba que reaproveita o óleo de cozinha, transformando-o em sabão ecológico, promovendo a inclusão de pessoas com deficiência, especialmente com autismo e síndrome de Down. Em três anos, o projeto se estruturou e começou a se apresentar em eventos científicos, tornando-se exemplo de inovação, sustentabilidade e inclusão social.
A participação do Pará, único representante da região Norte do país, representa mais um marco do movimento apaeano – que, ao longo de mais de 70 anos de história no Brasil, promove o protagonismo das pessoas com deficiência intelectual e múltipla – ao ser reconhecido, pela primeira vez, neste evento científico internacional.
Com o auxílio de um fone de ouvido e de um aplicativo de celular para traduzir sua apresentação aos visitantes em vários idiomas, Eduardo Lobato Pires, integrante do projeto, foi protagonista da sua história e representou os colegas que não puderam participar do evento. Com autonomia e simplicidade, conquistou visitantes russos, ingleses, franceses, italianos, muçulmanos, turcos e coreanos. “Gostei muito de apresentar o nosso trabalho e quero continuar falando desse projeto. Me emocionei ao representar os meus colegas, professores e minha família”, contou Eduardo, que foi a primeira pessoa com Síndrome de Down a participar deste evento internacional.
Tudo isso é resultado do trabalho da professora Gina e da família de Eduardo, que acreditou no potencial dele. “A família tem que acreditar que eles são capazes, independentemente das dificuldades de fala, locomoção... Devemos dar oportunidade para que se desafiem. O Eduardo teve esse privilégio, a família dele confiou seu tesouro nas minhas mãos”, revelou a professora, que alerta sobre a importância do apoio familiar para o desenvolvimento da pessoa com deficiência e integração a sociedade.
PARCEIROS - Esta conquista teve muitos parceiros, e um deles foi a Federação das Apaes do Estado do Pará (Feapaes-PA). Com muita satisfação, o presidente Emanoel O’ de Almeida Filho afirma: “Para nós é um orgulho muito grande do movimento apaeano, de todo o Brasil. Na verdade, é um feito inédito essa participação. Só temos a agradecer à equipe da Apae de Abaetetuba e a todo o empenho em executar um projeto que foi reconhecido não só no Brasil, mas agora na feira em Abu Dhabi”.
Do Brasil para o mundo
Quem acompanhou o projeto nas feiras científicas do Brasil também sentiu orgulho de vê-lo chegar tão longe e se destacar num evento internacional. De acordo com Rosenilda Vilar – responsável pela delegação brasileira da Feira Nordestina de Ciência e Tecnologia (Fenecit), que credenciou o projeto para Abu Dhabi –, esta é a primeira vez, em 21 anos, que uma instituição como a Apae é credenciada. “Entendemos que são instituições como a Apae que valorizam e desenvolvem a potencialidade dessas pessoas, que fazem a diferença. E quero dizer, além de parabenizar, que estamos de portas abertas para a Apae encaminhar projetos para a Fenecit, porque acreditamos nesta causa que vocês desenvolvem. Até porque a nossa linguagem universal é a ciência, e todos nós temos habilidades para desenvolver ciência”.
Mateus Alex Barbosa Dedê, diretor executivo da Milset Brasil e sócio fundador do Grupo Fábula, afirma que foi a partir da submissão do projeto que o Movimento Internacional para o Desenvolvimento Científico e Técnico (Milset) buscou modificar algumas regras para tornar o evento mais inclusivo.
“Até a vinda da professora Gina, não tínhamos tido nenhum caso similar. Mas, após a participação dela, nosso edital e estatuto foram adequados para entender que o aluno está na ‘faixa escolar respectiva’ e que, nesse caso, a idade não deveria ser um fator limitador. Ele (Eduardo) é uma pessoa incrível, e o apelo social e a representatividade desse projeto são imensos”, disse Mateus, vislumbrando que outros eventos acolham pesquisadores de todas as idades e em todos os contextos de aprendizagem.
EMPREENDEDORISMO - Com o viés empreendedor, o projeto também recebeu elogios da coordenadora de Educação Empreendedora do Sebrae Nacional, Luana Carulla: “Ficamos admiradas com o projeto e o potencial dele (Eduardo). O projeto traz o resultado de uma oportunidade identificada na comunidade (o descarte da gordura), junto com o reconhecimento e a valorização do que existe no território (a natureza local que traz o aroma ao produto). Para esse desenvolvimento, mobiliza diversos conhecimentos e habilidades dos alunos e os faz se sentirem produtivos, realizadores, contribuindo para a sociedade. Isso que é empreender! E observamos que, comparado aos demais países que expuseram projetos na área ambiental, de vocações territoriais etc., o projeto Flor de Lótus está no mesmo patamar de qualidade e inovação.”
Ao todo, 2043 participantes de mais de 45 países apresentaram mais de 600 projetos no Centro de Educação e Treinamento Técnico e Vocacional de Abu Dhabi (ACTVET).
Agora, o projeto vai se preparar para participar de mais uma feira que será em dezembro, em Belém, da Mostra de Ciência e Tecnologia do Instituto Açaí (MCTIA 20245) e para isso já tem novos planos. "O projeto tem muito a contribuir ainda e já estamos desenvolvendo uma linha de sabão a partir do caroço de açaí. Fizemos os teste e o resultado foi ótimo. Agora estamos em busca de parceiros tanto para triturar o caroço de açaí quanto para pontos de venda", conta a professora Gina revelando os próximos passos do projeto.