Nesta quinta-feira, 14, a Apae de Rondon do Pará, localizada no sudeste paraense, realizou o 1º Torneio de Bocha "Cirlaine Corrêa Dill", na quadra da sede da instituição. A competição contou com a participação de seis atletas, entre iniciantes e praticantes, e teve como objetivo motivá-los no esporte paraolímpico, além de tornar o espaço da Apae um futuro centro de treinamento de bocha.
Para quem não conhece, a bocha paraolímpica surgiu no Brasil na década de 1970 e é praticada por atletas com alto grau de paralisia cerebral ou deficiências severas. A competição consiste em lançar bolas coloridas o mais próximo possível da bola branca (jack ou bolim). Os atletas competem sentados em cadeiras de rodas e limitados a uma área demarcada para os arremessos. É permitido o uso das mãos, dos pés e de instrumentos de auxílio (calhas), além de contar com ajudantes (calheiros), no caso dos atletas com maior comprometimento dos membros.
De acordo com o professor de Educação Física Carlos Henrique Barbosa, aposentado, mas voluntário da Apae, os atletas são classificados em quatro classes distintas: BC1, BC2, BC3 e BC4. O termo "BC" significa Boccia Classification (Classificação da Bocha), e as numerações referem-se ao grau de comprometimento motor dos atletas. As classes BC1 e BC2 são específicas para praticantes com paralisia cerebral.
O jogo exige planejamento e estratégia para colocar o maior número de bolas próximas à bola-alvo, desenvolvendo e aprimorando, entre outras habilidades, a capacidade viso-motora. A habilidade e a inteligência tornam-se fundamentais nas jogadas, gerando um verdadeiro espetáculo de alternância de vantagem, à medida que técnicas e táticas são aplicadas de acordo com cada circunstância.
A prática esportiva traz diversos benefícios que vão além das habilidades motoras. "O ponto mais importante é a convivência", destaca o professor Carlos, que observa a dificuldade dos alunos com deficiência em Rondon do Pará de interagir socialmente. "Quando eles se veem em um ambiente onde a predominância é de pessoas com deficiência, percebem que são capazes de realizar atividades e isso representa uma mudança de paradigma", explica, ressaltando que o objetivo é mostrar à sociedade que as pessoas com deficiência são capazes de se envolver em atividades esportivas de alto rendimento.
Atletas paraolímpicas são inspiração para os participantes
Entre os seis participantes, destacaram-se as atletas Jamilly Deolindo da Silva, de 14 anos, assistida pela Apae de Rondon do Pará, que conquistou o bicampeonato brasileiro estudantil e o título de campeã brasileira de jovens em 2024, competição realizada em Curitiba. Outra atleta de destaque é Joice Sousa Lira, ex-assistida da Apae, que se sagrou campeã individual e em dupla no World Boccia Challenger CALI 2024, realizado na Colômbia, em outubro.
A mãe de Jamilly, Ivanilda Deolindo Piaba, expressou seu orgulho pela trajetória da filha. "Em abril de 2022, o professor Carlos convidou a Jamilly, e desde então ela vem se destacando nas competições. Como mãe, sinto muita alegria em vê-la aproveitando essa oportunidade. Jamilly está mostrando que a pessoa com deficiência é capaz de conquistar tudo o que deseja", disse Ivanilda.
Jamilly chegou à Apae de Rondon do Pará em 2012, e Ivanilda agradece o suporte da instituição, tanto no tratamento quanto no treinamento esportivo. "Ver a Jamilly se destacando, mostrando para o mundo que é capaz e recebendo o reconhecimento das pessoas, é motivo de muito orgulho. Fora a autoestima dela, que melhorou muito", conclui.
As atletas Jamilly e Joice fazem parte do Comitê Paraolímpico na modalidade de bocha paraolímpica.
"A minha esperança é levarmos mais três ou quatro alunos para São Paulo no próximo ano e conseguir a classificação deles para as competições", afirmou o professor Carlos.